Em 1948, a música Marie-Louise, de Antoine Wendo Kolosoy, co-escrita com o guitarrista Henri Bowane e produzida pelo grego Nico Jeronimidis da Ngoma Editions, tornava-se o primeiro hit do que se passou a chamar “rumba congolesa”, vendendo dois milhões de cópias, um fenômeno para a época. 

“Era o resultado do advento da indústria fonográfica e dos estúdios de gravação operados por padres e unidades de produção de discos afiliadas a comerciantes gregos”, segundo o especialista Emmanuel Okamba, no livro “La Rumba, un humanisme musical en partage”.

Na origem do movimento, estava a Bakolo Music International, acompanhantes de Wendo Kolosoy, os “pioneiros” da rumba congolesa, fundada em Kinshasa 1948, que misturavam à cultura local a rumba, o cha cha cha, o beguine e até o tango – veja o grupo remanescente ao vivo, na França.

O rei da cumba congolesa, Franco Luambo, da República Democrática do Congo

A construção musical da rumba congolesa, como se tornou conhecido um dos gêneros mais populares do continente africano, tem em sua origem diversas vertentes musicais, históricas e, mesmo, geopolíticas, com destaque para a influência da música cubana, a partir dos anos quarenta.

Veja o trailler do filme “On the rumba river”, de Jacques Sarasin

Em meados da década de quarenta, a música cubana com seus vários ritmos estava em alta em todo o mundo ocidental, especialmente pela projeção internacional de artistas como Sexteto Habanero, Los Guaracheros de Oriente e Trio Matamoros – que se apresentou no Brasil, no Rio de Janeiro, em 1937.

Trio Matamoros, um dos responsáveis pela difusão mundial da música cubana

A origem do gênero – “rumba congolesa” no Zaire, o Congo Belga, hoje República Democrática do Congo, tem a ver com a Rádio Congo Belge, criada pelo governo da Bélgica na então colônia, para organizar a resistência à invasão nazista, que ocupava o território da matriz na Europa. 

Na rádio Rádio Congo Belge, entremeados com discursos e orientações políticas, os discos dos grupos cubanos eram tocados a exaustão, com a música sendo rotulada de “rumba”, na falta de conhecimento dos diferentes gêneros musicais oriundos da distante ilha do Caribe.

Francos e Ok Jazz ao vivo na República Democrática do Congo, nos anos 50

A partir daquela década, o gênero foi ganhando a formatação definitiva, com introdução de solos de guitarra e orquestras de metal até chegar em grupos como O.K. Jazz (TPOK Jazz, de Franco Luambo), nos anos cinquenta, o primeiro grande nome do gênero, com projeção na África e no mundo.

Entre os nomes que se destacaram na rumba congolesa a partir dos anos cinquenta e sessenta, em especial, além de Franco e seu O.K. Jazz, estão Sam Mangwana, Joseph Kabasele & African Jazz, Les Bantous de la Capitale, Docteur Nico & Orchestre African Fiesta, Tabu Ley Rochereau e Ry-Co Jazz.

Clipe de disco do guitarrista Diblo Dibala, um dos mestres do soukou

Em meados dos anos sessenta, o impacto geracional mundial daquela década também influencia a rumba congolesa que produz uma nova e moderna vertente batizada de “soukous”, com mais peso e velocidade nas guitarras, valorização da bateria e vocalizações mais energéticas e teatrais.

Entre os primeiros grupos fundamentais para a construção do novo gênero estão Los Nickelos, formado por estudantes do Zaire baseados na Bélgica, e  Orchestre Sinza, destacando o guitarrista Jacques Kimbembe,

Na sequência, destacaram-se artistas e grupos como Zaiko Langa Langa, Papa Wemba, Pepe Kalle & Empire Bakuba, Kanda Bongo Man, Orchestre Shama Shama, Sam Mangwana, Loketo, Aurlus Mabélé, M’bilia Bel e Diblo Dibala, entre outros.

PLAYLIST – Ouça a playlist ÁFRICA INFINITA – A rumba congolesa no perfil Senhor F Social Club, na plataforma Spotify.

+ Onde ouvir também: Golden Afrique – The Great Days of Rumba Congolaise and Early Soukous

Foto: Reprodução.

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