“Arnaldo é um artista verdadeiro. Tal qual Charlie Parker, Stanley Kubrick e Brian Wilson”. A afirmação é de Darian Sahanaja, integrante do grupo americano Wondermints e espécie de atual (em 2004*) “sidemen” do gênio Brian Wilson. Isso pode soar superlativo, mas dimensiona a real grandeza de Arnaldo Baptista: a de um artista universal.
Arnaldo Baptista é o nosso Tom Jobim do rock and roll que o Brasil ainda não descobriu em toda sua dimensão e importância. Além de sua história pessoal, do mito do ex-Mutantes, existe um compositor dono de uma musicalidade extraordinária. A sua obra tem uma ousadia e uma sinceridade que somente os artistas verdadeiramente iluminados são capazes de produzir.
Em entrevista para a revista Showbizz, o maestro Rogério Duprat disse que “os Mutantes foram melhores que os Beatles”. Duprat quis dizer que Arnaldo, Sérgio e Rita, em determinado momento, entre 1968 e 1970, foram mais criativos e revolucionários – outra afirmação que desafia o senso comum e as verdades estabelecidas, mas que se sustenta na audição de seus três primeiros discos.
Antes de Darian, também fã de carteirinha dos Mutantes, outros artistas “gringos” reverenciaram seu grupo – ao lado de Sérgio Dias e Rita Lee, depois que foi “redescoberto” e reeditado em vinil, por Luiz Calanca, nos anos oitenta. O filho de John Lennon e Yoko Ono, Sean Lennon, David Byrne e Kurt Cobain, entre os mais importantes, expressaram sua simpatia pela banda brasileira, em diferentes momentos e manifestações.
Apesar do longo exílio em Juiz de Fora, Arnaldo nunca deixou de estar presente nas garagens nacionais, inspirando dezenas de novas bandas e reverberando sua música em diversos discos lançados nos últimos anos. Júpiter Maçã e Cachorro Grande (RS), Pipodélica (SC), Mopho (AL), Mordida (PR) e Plástico Lunar (SE) são alguns grupos e intérpretes que pagam tributo ao som do mestre das melodias psicodélicas.
Ouvir Arnaldo Baptista hoje, depois de tanto tempo sem gravar, é também constatar a falta que ele fez para a história da nossa música popular. Uma ausência que a força de suas novas e emocionantes composições redime no tempo e no espaço, como se ele nunca tivesse deixado de estar presente entre nós. Arnaldo dos Mutantes, de Loki? e de Let it Bed são uma pessoa só; é todos nós que, como ele, não perdemos a capacidade de nos emocionar com arte independente, verdadeira e libertária.
Texto de apresentação do disco “Let it Bed”, na revista Outra Coisa, editada pelo Lobão, em 2004.
Foto: Reprodução.
* As referência ao música Darian Sahanaja é de quando ele integrava a banda de apoio do Brian Wilson, antes de assumir a mixagem definitiva do inacabado clássico “Smile”.
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