Mutantes: Ando meio desligado, arranjo não identificado

Ao estilo das ideias de Rogério Duprat, inspiradas nos concretistas americanos, como John Cage, o arranjo de Ando meio desligado segue até hoje sem paternidade assumida.

Fernando Rosa

9 de janeiro de 2025

A diferente e sem paternidade versão de Ando Meio Desligado que abre e dá o nome ao terceiro álbum dos Mutantes A Divina Comédia …ou Ando Meio Deligado, é uma das músicas mais emblemáticas e misteriosas dos Mutantes.

Todo mundo já sabe que Arnaldo Baptista sacou aquele baixão de entrada de Time of The Seasons, clássico da banda inglesa The Zombies.

Muita gente também conhece a versão ao vivo, batizada de Ando Meio Desligado/Não Faz Marola, em que eles terminam fazendo um carnaval no final (olê, olá … o yê-yê-yê tá botando pra quebrar).

Mistério por desvendar

Mas existe um mistério que ainda ainda está por ser desvendado envolvendo essa mesma música, que é a sua versão lançada em compacto.

Nele, com a clássica ironia do trio, os sons de fundo da música, a partir de sua metade, feito com instrumentos tradicionais, é substituido por barulho de tiroteio e rajadas de metralhadora.

Intui-se, pelo clima da época, entre ditadura e pós-Woodstock, que a idéia derivou do que Jimi Hendrix fez com o hino americano (Star Spangled Banner) no filme/festival (veja abaixo).

Enquanto o guitarrista americano detonava o hino com sons de guerra, em protesto contra o Vietnã, os Mutantes denunciavam ao seu modo a repressão militar que tomava conta das ruas.

Ao final da música, após a deixa do grupo – “ohhh meu Brasil …”, um verdadeiro tiroteio se instala na música, fechando a canção com 5m3s, contra os 4m43s da versão original.

De resto, a base instrumental da música é a mesma, mudando apenas o arranjo, que inclui essa citação.

Sem paternidade assumida

Bem ao estilo das idéias de Rogério Duprat e dos Mutantes, inspiradas nos concretistas americanos, como John Cage, a sacada até hoje não tem paternidade assumida.

Em entrevista com o maestro Rogério Duprat feita para a revista Bizz, em 2000, a pergunta foi feita, mas ficou mais uma vez sem resposta.

Assim como Sérgio Dias já declarara anteriormente, Duprat disse não lembrar-se do novo arranjo e nem de quem poderia ter tido aquela idéia, mantendo o mistério.