Os anos sessenta e setenta foram pródigos na quebra de fronteiras musicais, Na edição brasileira do jornal/revista Rolling Stone conviviam Pink Floyd, A Bolha e Luiz Gonzaga.
Nessa onda de experimentalismo sem limites, alguns nomes malditos foram resgatados do anonimato. Um deles foi Walter Smetak, uma espécie de “alquimista sonoro”, que vivia na Bahia.
Um de seus dois únicos discos – Smetak, lançado em 1975, foi produzido por Caetano Veloso, que cita o músico em Épico (Araçá Azul, de 72): “… Smetak, Smetak & Musak & Smetak & Musak & Smetak & Musak & razão …”.
- Escola John Cage
Seguindo a escola dos músicos concretistas, como John Cage, Smetak destacou-se não apenas pela composição de peças inusitadas, mas também pela criação de instrumentos ainda mais estranhos.
Na década de setenta, Smetak já contabilizava mais de cem instrumentos musicais, que inventava para “fazer som” – para ele “um meio de despertar novas faculdades da percepção mental”.
Uma de suas criações atendia pelo nome de Vina, construído com três cabaças, que permitiam “a passagem do som ocidental – mais imprensado – para o oriental, muito prateado e curto”.
- Alquimista pré-tropicalista
A fama de “bruxo”, segundo conta a lenda, veio com um concerto que realizou na Igreja de São Francisco, em Ouro Preto, em 1971.
Por conta dos sons que tirava de um órgão elétrico, o lustre da igreja começou a girar, as paredes tremeram e as pipocas pularam fora dos saquinhos.
Segundo disse ao jornalista Maurício Kubrusly na época, “as pessoas saíram correndo da igreja, me chamando de bruxo, quando se tratava apenas de uma mera reação física”.
Um dos sonhos de Smetak alimentados desde sua chegada na Bahia nos anos cinquenta era criar uma “universidade de som” no Planalto Central, para juntar músicos e físicos.
- Suíço-baiano
Nascido na Suíça, em 1913, Walter Smetak diplomou-se concertista no Conservatório de Viena, em 1934.
Três anos depois, por motivos financeiros, resolveu ganhar o mundo, foi parar em Porto Alegre, contratado pela Orquestra da Rádio Farroupilha que, quando ele chegou, já não existia mais.
Mesmo assim, ficou por aqui, passando a trabalhar no Rio de Janeiro e São Paulo, tocando em festas, rádios e acompanhando intérpretes estrangeiros e nacionais, entre eles, Carmem Miranda.
Em 1957, é contratado pela Universidade Federal da Bahia, convidado por H.J. Koellreuter, onde inicia suas pesquisas sonoras e passa a se interessar pela teosofia.
- Legado vivo
Falecido em 1984, além da fama, e do fascínio pela experimentação, Smetak deixou inúmeros registros musicais, muitos livros, instrumentos e um grande número de seguidores.
Entre os principais discípulos, Caetano Veloso, Gilberto Gil, o percussionista Djalma Correia e Marco Antônio Guimarães, do grupo mineiro Uakti, além de outros espalhados pelo mundo
Os instrumentos que criou encontram-se reunidos na Biblioteca Reitor Macedo Costa, no Campus de Ondina (Salvador), visita obrigatória para quem curte a música e sua história.
Seus dois únicos discos: Interregno (Marcus Pereira) e Smetak (Philips) são peças raras (e caras) de colecionadores.
Fotos: Divulgação.
Texto atualizado de publicação original na Revista Senhor F..
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