Chamado de “rei do órgão de Casablanca”, Omari El Omari, nascido em 1945 (morreu em 2010), revolucionou a música popular do Marrocos e tornou o instrumento um protagonista da central.

Usando principalmente um Farfisa (e, em alguns momentos, um ARP analógico), produziu linhas de órgão serpenteantes, percussões polirrítmicas e coros hipnóticos.

Além de tecladista, Abdou El Omari foi compositor e maestro, atuando principalmente em Casablanca, em hotéis, clubes e estúdios, onde registrou as obras que ganharam o mundo.

  • Omari expandiu o vocabulário da música marroquina ao eletrificar suas matrizes sem diluí-las — um gesto que ecoa no interesse contemporâneo por registros do Magrebe e no diálogo entre África do Norte e a pista global.

Nos anos setenta, Omari aproximou ritmos e modos tradicionais (chaâbi, gnawa, malhun) de uma estética eletrificada, com pulsos de funk, groove progressivo e tensão psicodélica.

Seu nome ganhou status cult fora do Marrocos graças às reedições do selo belga Radio Martiko a partir de 2016/2017, que revelaram a amplitude de seu repertório.

Durante a vida, Omari gravou o álbum Nuits d’Été (1976), que circulou de forma limitada no Marrocos e, a partir da sua reedição, conquistou ouvintes em todo o mundo.

O selo Radio Martiko licenciou os masters (Disque Gam) e lançou uma trilogia Nuits em vinil e digital, catalisando seu redescobrimento global e esgotando sucessivas prensagens.

O retorno de seus discos aos toca-discos do mundo reordena mapas sonoros, trazendo Casablanca para a cartografia da psicodelia africana dos anos setenta.

Discografia oficial

  • Nuits d’Été (1976; reedições Radio Martiko desde 2016/2019) — ponto de partida, majoritariamente instrumental, apresentando a fusão de ritmos marroquinos com grooves psicodélicos.
  • Nuits d’Été avec Naima Samih (material de 1978; 1ª edição em 2017) — peças compostas para a diva Naima Samih e instrumentais em clima de “parte dois”.
  • Nuits de Printemps (material inédito; 1ª edição em 2017) — fecha a trilogia com instrumentais e intervenções vocais, alternando Farfisa e ARP.

    Algumas canções comentadas
  1. “Nuits d’Été” (Nuits d’Été, 1976)
    – O cartão de visitas: órgão Farfisa serpenteando sobre batidas hipnóticas e cordas marroquinas.
  2. “Ourika” (Nuits d’Été, 1976 – em algumas edições)
    – Tema que mostra a pulsação gnawa transfigurada em groove progressivo.
  3. “Mrahba” (Nuits d’Été avec Naima Samih, 1978 / reedição 2017)
    – A voz de Naima Samih, diva da canção popular, emoldurada por arranjos cósmicos de Omari.
  4. “Badaoui” (Nuits de Printemps, grav. 1970s / reedição 2017)
    – Ritmo festivo, coros e órgão em clima de transe urbano.
  5. “Aflana” (Nuits d’Été avec Naima Samih)
    – Outro encontro entre tradição vocal marroquina e experimentação eletrificada.
  6. “Alya” (Nuits de Printemps)
    – Atmosfera noturna, linha de órgão contemplativa, quase cinematográfica.
  7. “Rajaa” (Nuits d’Été, 1976)
    – Encerramento perfeito: balanço entre melancolia e êxtase, marca registrada de Omari.

Foto: Senhor F Social Club (acervo do site)

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