A música africana encerra muitos mistérios e curiosidades, incluindo, em especial, a forte presença da guitarra elétrica em sua base sonora.

Em geral esta percepção é ignorada, pois a referência ao instrumento remete ao rock, principalmente para as gerações pós-anos cinquenta.

O guitarrista Nicolas Kasanda, Docteur Nico, da República Democrática do Congo

O jornalista Caspar Llewellyn Smith, em resenha do disco “Pirates Choice, da Orchestre Baobab, grupo do Senegal, lança sinais sobre o fato.

No artigo, o jornalista do The Guardian apoia sua tese no livro Rumba on the River, de Gary Stewart, sobre a música dos dois Congos – origem da rumba congolesa.

Caspar, citando Stewart, traça a diferença da miscigenação musical ocorrida no continente africano e nos Estados Unidos.

Segundo a tese, o jazz evolui nos EUA com base no piano, metais e sopros, oriundos da cultura europeia dominante no país.

A banda Bembeya Jazz National, da Guiné-Conakri, destacando o guitarrista “Diamond Fingers”

Já na África, a guitarra ocupou o centro da construção da moderna música africana, ao lado da percussão e dos metais.

Segundo Stewart, pela proximidade do violão com os instrumentos tradicionais e também pela inadequação dos pianos à humidade tropical.

Diblo Dibala, um dos grandes guitarristas do soukous, aqui com a banda Loketo

Os grandes mestres

Ao longo das décadas, desde os anos 40 principalmente, e bastante por conta da rumba cngolesa, a guitarra eletrica se espalhou pelo continente, produzindo grandes instrumentistas.

A lista dos mestres da guitarra africana é extensa (veja sugestão de discos no pé da matéria), destacando-se Henri Bowane, Albert Luampasi, Jean Bosco Mwenda, Tèwèldè Redda, S. E. Rogie, George Ramogi e John Ondolo, entre os pioneiros.

Também Franco, Docteur Nico, Manfila Kanté, King Sunny Adé, D. O. Misiani, Barthelemy Attiso e Sekou “Diamond Fingers” Diabaté, Dizzy Mandjekou, Papillon e Lokassa continuaram a tradição de grandes instrumentistas.

Ali Farka Touré e Boubacar Traoré, dos heróis da música do Mali

Os guitarristas modernos, por sua vez, como Sir Victor Uwaifo, Diblo Dibala, Manuaku Waku, Bavon Marie-Marie, Pedro Lima, Jean Baron e Lucien Bokilo avançaram no uso do instrumento.

Ainda, é fundamental registrar o papel de Ali Farka Touré, do Mali (veja vídeo abaixo), a fonte primária do blues, a influência da maioria dos principais guitarristas do rock.

PARA OUVIR – Ouça a playlista especial ÁFRICA INFINITA – Grandes guitarristas, com seleção de Fernando Rosa.

Sugestão de discos:

1 – Docteur Nico – Dieu de la Guitarre
2 – Manfila Kanté – Présente Mamadi Diabaté
3 – Franco & OK Jazz – OK Jazz Authenticité
4 -John Ondolo – Hypnotic Guitar of
5 – Bembeya Jazz National – Parade Africane
6 – K. Frimpong – Backed by Vis-a-Vis
7 – George Ramogi – Pamela Awino
8 – D. O. Masiani & Shirati Jazz – My Life and Loves
9 – Manuaku Waku – Eke Ya Pamba
10 – Johnny Bokelo – Au Revoir 81
11 – Bavon Marie-Marie – L’Intrepide
12 – Orchestre Baobab – Bamba
13 – Oriental Brothers International – ST (first)
14 – Diblo Dibala – Boum Tonnerre
15 – Henri Bowane – Double Take – Tala Kaka
16 – Ali Farka Touré – The River
17 – Bombino – Nomad
18 – Sir Victor Uwaifo – Guitar Boy Superstar 1970-76
19 – Zaiko Langa Langa – Le Tout Neige
20 – Pedro Lima – Magadala
21 – Prince Nico Mbarga – Sweet Mother
22 – Jean Bosco Mwenda – Mwenda wa Bayeke
23 – Tèwèldè Redda – Etiopiques Vol 5 – Tigrigna Music 1970-1975
24 – King Sunny Adé And His African Beats – Juju Music
25 – T. P. Orchestre Poly-Rythmo – Le Sato
26 – S. E. Rogie – Further Sounds of
27 – Jean Baron – Comme un …
28 – Lucien Bokilo – Le jeu est fini
29 – Lokassa Ya Mbongo – Adiza

Foto da capa: Docteur Nico (Reprodução).

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