Por volta do ano 2000, adentrando ao seu segundo ano de vida desbravando os caminhos da internet brasileira, a então Senhor F – A Revista do Rock trazia uma entrevista histórica com o tecladista Lafayette.

Apesar de sua fundamental colaboração com Roberto Carlos, especialmente, e dezenas de outros artistas, além de seus discos solo, o mestre do teclado Hammond B3 estava “no limbo” da história musical do país.

A entrevista, em parceria com Ricardo Kothe (90), e feita por telefone, dava voz para Lafayette, então tocando em um shopping em Niterói, que falou de sua história na Jovem Guarda, do rock dos anos cinquenta e da sua relação com Erasmo Carlos.

A partir da entrevista, por iniciativa de Gabriel Thomaz, e convidado por ele, Lafayette voltou à cena musical, no caso, a cena independente, inspirando jovens tecladistas e bandas com sua sonoridade particular.

“Fomos numa churrascaria lá em Alcântara conhecer o gênio do órgão Hammond pra convencê-lo a tocar com a gente“, lembrou Gabriel em fevereiro deste ano, comentando um post no perfil de Senhor Social Club.

Um pouco depois, Gabriel Thomaz e parceiros da cena independente montaram o grupo Lafayette & Os Tremendões, que passou a se apresentar praticamente em todo o país.

O projeto Lafayette & os Tremendões tirou o mestre do limbo da música e durou 14 anos. Tocamos em todas as regiões do Brasil, em lugares onde Lafayette não tocava fazia 30 anos e outros onde ele nunca tinha ido“, continuou.

Lafayette com Os Tremendões pela primeira vez em Porto Alegre, no festival El Mapa de Todos

“Tenho um grande orgulho de ter feito parte disso. Lafayette morreu no dia que saí do hospital depois de 22 dias internado no Covid. Uma montanha russa de emoções”, completou.

O texto a que se referiu Gabriel apresentava no Facebook a playlist “A vingança de Lafayette“, com uma seleção de artistas da geração dos anos 2000 que pagaram tributo ao mestre Laffa (veja no pé da matéria).

Aos 78 anos, Lafayette morreu na madrugada de quarta-feira, 31 de março de 2021, vítima de infarto sofrido em hospital da cidade do Rio de Janeiro (RJ) onde dera entrada para tratar de pneumonia, informou o jornalista Mauro Ferreira em sem blog.

Áudio da entrevista abaixo em texto, feita pelo editor de Senhor F, Fernando Rosa, em 2000.

A ENTREVISTA

A trajetória artística do tecladista e arranjador Lafayette, nascido em 11 de março de 1943, iniciou aos cinco anos no Conservatório Nacional de Música, no Rio de Janeiro. Com o surgimento do rock and roll, passa a integrar o The Blue Jeans Rockers, não por acaso responsável pelo primeiro rock instrumental gravado no país. Junto com ele na música ‘Here Is The Blue Jeans Rockers’ estão os futuros Luizinho e Seus Dinamites, Luizinho (violão elétrico) e Euclides (guitarra).

A maioria de seus discos permanecem inéditos, com apenas algumas poucas e tímidas coletâneas oficiais relançadas em CD. Ele também pode ser ouvido na série ‘Os Anos da Beatlemania’, que traz suas versões instrumentais para os clássicos de Lennon & McCartney, com destaque para a sensacional ‘Day Tripper’. Antes de gravar com a Jovem Guarda, e de formar o Lafayette e seu Conjunto, com quem gravou a série ‘Apresenta os Sucessos’, ele comandou o Sambrasa e Lafeyette Seu Piano e Ritmo.

Senhor F – Quando e como você começou a tocar? Qual a tua formação musical?

Lafayette – Eu comecei a estudar aos quatro anos de idade. Estudei oito anos de piano. O curso inteiro eram onze anos, naquela época. Estudei oito anos, e comecei a gostar mais do lado popular. Então, parei de estudar, já sabia o suficiente pra começar a fazer os primeiros conjuntinhos. E foi ai que começou tudo. Estava com doze anos. No colégio que eu estudava, tinha várias pessoas que também se ligavam em música. Eu fiz o ginasial e um pouco do científico em dois colégios, no Colégio Salesiano Santa Rosa, em Niterói e no Instituto no Instituto Lafayette, no Rio de Janeiro, que tinha meu nome, mas não tinha nada a ver comigo.

Senhor F – Foi aí que nasceu o Blue Jeans Rockers, com você, Luizinho e Euclides?

Lafayette – Foi lá (no colégio Lafayette) que nós começamos a formar o Blue Jeans Rockers. Nesse colégio, conheci vários cantores, artistas, que hoje fazem sucesso, como o Luiz Ayrão. Em frente ao Colégio tinha um cinema, que se chamava Cine Madri. Então lá, era praticamente o local de reunião de todo o pessoal que começou a fazer Jovem Guarda, a Wanderléa, Tim Maia, Jorge Ben. Todo mundo se reunia nesse cinema, era o ponto, o lugar em que o pessoal batia papo, trocava idéia e tudo. Ali começou praticamente a idéia do movimento da Jovem Guarda.

Senhor F – Você ouvia o que na época? Muito rock and roll?

Lafayette – Ouvia muito rock. Elvis, naquela época era o início do Elvis Presley, Neil Sedaka, Little Richard e tudo mais. Foi aí que nós começamos a fazer o Blue Jeans Rockers, baseado nisso. Nós tinhamos três cantores no conjunto. O Luiz Henrique, que era mais para o o lado de Elvis Presley; o Luizinho, que era mais variado, ele gostava muito de country, Gene Vincent; e tinha o Cyro Aguiar, que fazia mais o estilo de Pat Boone, ele cantava muito bem as músicas dele, e aqueles roquezinhos country, era muito bom nessa parte. Então, eram esses três os vocalistas do conjunto.

Senhor F – Nessa época, tu já tinha relação o pessoal que, depois, comandou a Jovem Guarda, especialmente Roberto, Erasmo e Wanderléa?

Lafayette – Isso foi um negócio à parte, um pouco antes da Jovem Guarda. Naquela época do Blue Jeans, a gente ensaiava muito. Era muito assim de um ir na casa do outro, era uma turma, como se fosse uma turma de rua, mesmo. Então, a gente participava de programas de rock ao vivo, eu tenho até troféus que a gente ganhou, como melhor conjunto de rock ao vivo. E chegamos a ter o prazer de acompanhar o Neil Sedaka, quando ele esteve no Brasil. Mas, nosso grande sonho era acompanhar o Elvis, se ele viesse ao país. Também acompanhamos, bem mais tarde, o Jimmy Cliff.

Senhor F – O grupo chegou a gravar? A história registra um 78rpm com ‘Here Is The Blue Jeans Rockers’, de vocês, e ‘Blue Suede Shoes’, de Carl Perkins.

Lafayette – Existe um acetato, pelo selo Tiger, e eu acho que existe uma única cópia, que eu sempre quis ter, mas nunca consegui (hoje, Lafayette tem, pelo menos, a cópia em mp3, que repassamos para ele). Não sei onde tinha ido parar essa cópia. Deve ter ficado com o Luizinho ou com o Luiz Henrique. E deve ter dado várias voltas por aí.

Senhor F – Esse disco é importante, porque é o primeiro registro de rock instrumental no Brasil?

Lafayette – Acho que o Blue Jeans Rockers foi também o primeiro conjunto de rock do Brasil.

Senhor F – E nesse período, entre o Blue Jeans e o começo da Jovem Guarda, o que rolou?

Lafayette – Eu não sei precisar o tempo que o Blue Jeans durou. O Blue Jeans durou toda aquela época do rock. Ai foi havendo uma mudança, e eu não sei porque, eu não lembro bem porque, o Blue Jeans se dissolveu. Então, formei o meu conjunto, o Lafayette, Seu Piano e Ritmo, e comecei a fazer bailes. Ai fiquei muito amigo de Luiz Airão. Eu ensaiava até na casa dele. Nós fizemos um conjunto bem eclético, que tocava todos os ritmos.

Senhor F – O Luiz Ayrão era o cantor do conjunto?

Lafayette – Não, o Luiz Ayrão era só meu colega de escola, a gente batia muito, ele me mostrava as músicas que ele fazia. Veja você, só depois de muitos anos ele foi gravar a primeira música com o Roberto, ‘Nossa Canção’, que fez um sucesso enorme.

Senhor F – E o contato com o pessoal da Jovem Guarda, como foi?

Lafayette – Desde a época do colégio, eu morava na Tijuca, e a Tijuca era o bairro em que vivia todo o pessoal.

Senhor F – A Turma do Matoso…

Lafayette – Justamente, na esquina da Matoso é que ficava o cinema Madri, em que o pessoal se reunia?

Senhor F – Mas, o primeiro contato, digamos, de trabalho …

Lafayette – O Erasmo era meu vizinho, a rua em que ele morava era logo depois da minha. A gente era muito amigo. Um dia, eu estava em casa, ele foi lá e me disse: olha eu vou gravar um disco, e queria que você participasse, tocando piano. Eu disse: tudo bem, eu vou lá. Marcamos o dia, e fui lá na gravadora dele que, naquela época, era a RGE. Então, eu fui pra gravar com piano e, de repente, entrando no estúdio da RGE, nós vimos assim, um negócio, tipo um instrumento, jogado num canto do estúdio, e fomos tirar a capa pra ver. Era um órgão. Eu nunca tinha tocado órgão, mas achava um instrumento maravilhoso. Aí eu liguei o órgão, e comecei a tocar umas músicas de Natal, músicas de igreja, aquelas coisas típicas de órgão mesmo. O Erasmo que, naquela época, já tinha umas idéias avançadas, veio e disse: puxa bicho, que tal a gente fazer o seguinte, fazer um negócio diferente, ao invés de botar um piano, botar um órgão. Ai o pessoal (da gravadora) … mas órgão em rock, em música jovem? Ele (Erasmo) disse, não, vamos experimentar, e foi ai que a gente gravou ‘Terror dos Namorados’, e ‘A Pescaria’ também. Eu disse, bom, então vamos fazer o seguinte, a gente vai tocando, e eu vou fazendo o que eu sentir. Nós começamos, fizemos o negócio, e quando terminou, que a gente ouviu a gravação, achamos que tinha ficado ótimo, sabe, o negócio ficou muito bom. Ai o Erasmo disse: puxa vida, é isso ai que eu quero. Então, o disco foi pra mixagem, e quando já estava pronto, antes de sair, o Erasmo chamou o Roberto – naquela época eles já estavam juntos – para mostrar ao Roberto. E disse: olha só que novidade eu vou lançar. O Roberto ouviu, ficou maluco, e disse: ahh não, no meu próximo disco eu quero um órgão também, sabe, eu quero órgão. Então vai lá, disse o Erasmo, fala com o Lafa pra ele gravar. Em seguida, o Roberto me telefonou, foi quando eu fui pra CBS, e comecei a gravar com ele.

Senhor F – E qual foi a primeira gravação com o Roberto, a que mais causou impacto?

Lafayette – Olha, uma das primeiras, não sei se foi a primeira, mas uma das primeiras músicas que fez o pessoal prestar atenção em mim foi ‘Quero Que Vá Tudo Pro Inferno’. Aquele som de órgão que eu botei, acho que fui muito feliz em achar aquele som certo do órgão. Agora, a música que me deu muita sorte, que realmente chamou a atenção da gravadora, foi ‘Não Quero Ver Você Triste’. O Roberto, quando foi gravar, não tinha ainda terminado de fazer a música toda, só tinha feito um pedaço. Ele disse: bicho, essa música é muito importante, porque eu só declamo na música, o solo todo é de órgão, a música toda é o orgão que vai tocar, eu só vou declamar e assoviar. Ai ele disse: mas eu só fiz a metade, e queria tanto gravar logo essa música. Eu disse: olha você faz o seguinte, vamos ver a metade que você fez, a gente vai gravando – aquele mesma idéia do Erasmo – e o que vier na minha cabeça, eu vou tocar, e se você gostar você, fica. Fizemos assim. O Roberto começou a assoviar, a mostrar a melodia pra mim, a gente ensaiou rapidamente no estúdio. Ai começou, e bom, eu disse, eu vou fazer o que vier na minha cabeça. Depois a gente vê o que vai sair. A primeira parte, ele já tinha feito, eu fiz o que ele tinha feito, e a segunda eu fui inventando, e saiu aquilo. O Roberto disse, tá ótimo. Até tem gente que diz que eu devia, na época, ter exigido uma parceria na música, mas a gente não tinha essa idéia comercial.

Senhor F – Com foi tua relação com o Roberto Carlos, que tinha fama de perfeccionista?

Lafayette – Foi bom, porque eu sempre também gostei de fazer tudo certinho, então a gente combinava muito. Agora, justamente eu parei de tocar com ele porque eu já não tinha mais tempo. O Roberto realmente tomava muito tempo da gente. As vezes a gente ficava um dia inteiro, uma noite inteira, para gravar uma música só. A gente gravava várias vezes. Por exemplo, a gente começava a gravar as sete horas da manhã, gravava até as sete horas da noite, ai dava uma parada para jantar, esfriar a cabeça, voltava pro estúdio, nove horas, e ia até as três da manhã. Para no final, ele dizer, sabe, aquela primeira que nós gravamos – aquela lá das sete, oito horas da manhã – ficou mais legal. Então, com o decorrer do tempo, com os meus discos fazendo muito sucesso, comecei a tocar em muitos lugares. O Roberto também formou o primeiro conjunto dele, o RC3. Ele me chamou pra tocar, mas eu disse que não podia ir porque já estava fazendo meu conjunto, com meu nome. Eu pensei, ou faço a minha carreira ou, então, fico preso pra sempre com o Roberto. Então, tive parar com ele, e fazer a minha carreira.

Senhor F – A sonoridade do teu órgão é uma espécie de marca registrada da Jovem Guarda. Como você chegou nela?

Lafaytte – A partir dessas primeiras gravações com órgão, eu comecei a abandonar um pouco o piano. Embora eu gravasse de tudo. Todos os teclados das músicas do Roberto, eu que gravei. Com o Roberto, eu gravei com sintetizador, já naquela época, quando apareceram os primeiros sintetizadores, era um moog. Eu gravei com celeste, gravei até com cravo, que era um instrumento difícil de ter por aqui, porque desafina atoa. Foi uma experiência nova a gente botar aquele intrumento. A gente ia fazendo tudo que vinha na cabeça.

Senhor F – E que tipo de instrumentos e equipamentos você usava?

Lafayette – Era um Hammond, modelo B3, com uma caixa Leslie, mas no início não tinha caixa, só depois é que botamos. A CBS também tinha um órgão Farfisa, mas eu não gostava muito. Eu achava o Farfisa muito estridente, mas alguma coisa a gente fez com ele, para dar um efeito diferente. Agora, eu devo muito aquele som do órgão aos técnicos da CBS, especialmente o Jairo Pires, que depois virou produtor, e Eugênio de Carvalho, que mais tarde trabalhou na Globo. Eles melhoravam muito o som do órgão, botavam um tipo de eco que tinha lá na CBS, um eco muito bom. Quando eu dava aquelas puxadas, dava um efeito … Eles davam ao órgão, além do som bonito que já tem, uma equalização, um eco assim diferente. Aquilo tudo ajudou a fazer aquele som, a sair aquele timbre legal.

Senhor F – Com que mais você gravou, além de Erasmo e Roberto?

Lafaytte – Todos eles, Renato e Seus Blue Caps, Os Vips, mas mais aqui no Rio. Tinha dias, naquele época, que eu tocava o dia inteiro no rádio. Olha eu gravei muita coisa nas outras gravadoras, na Philips, na Odeon, mas tinha uns, que eu não sabia qual artista eu estava gravando. O produtor me dava as partituras, e eu fazia, mas nem sabia o nome do artista. O artista muitaz vezes não estava nem presente no estúdio.

Senhor F – Como surgiu a idéia dos discos ‘Lafayette Apresenta os Sucessos?

Lafayette – Foi nesse dia em que eu gravei ‘Não Quero Ver Você Triste’, e depois nós gravamos a ‘História de Um Homem Mau’, onde eu fazia só tipo de um balanço no órgão. O diretor da gravadora, na época, o ‘seo’ Evandro (NR – Evandro Ribeiro, diretor artístico e presidente da CBS nos anos 60 & 70), ficou muito entusiasmado comigo, e disse, vou oferecer um contrato a esse garoto pra gente fazer um disco solo. Então, ele marcou no dia seguinte pra eu ir lá assinar um contrato, e nós começamos a gravar. Mas o primeiro, não foi nem com Jovem Guarda. Eu gostava muito de tocar samba naquela época. Eu tinha muita influência do conjunto do Ed Lincoln, que eu gostava muito. A minha vontade era gravar samba. Ai o ‘seo’ Evandro disse: olha, samba não é muito bom não, já tem muita gente vendendo samba. Então, ele, pra fazer a minha vontade, deixou gravar. Ai gravei um disco, com metade de músicas orquestradas, e outra metade cantada pela minha esposa. O nome do disco era ‘Lafayette apresenta Dina Lúcia’. Nem eu, nem ela tinhamos experiência de gravar, o som do disco era legal, mas não vendeu. Então, ‘seo’ Evandro disse: tá vendo, você fez o primeiro do seu jeito, agora a vamos fazer do meu. E me entregou o repertório, que tinha músicas dos Beatles, como ‘Yesterday’, ‘Michelle’. Eu gravei, e estourou. Foi o primeiro da série ‘Lafayette Apresenta os Sucessos’.

Senhor F – Quantos discos teve essa série? Eram lançados só no Brasil, ou foram lançados foram também?

Lafaytte – Foram 32 lps aqui no Brasil, e lá fora outros trinta e poucos, ou quarenta. Nós lançamos em tudo que é lugar. Tem compacto lançado nos Estados Unidos, em Israel; tenho capas desses discos aqui em casa. Tem disco lançado no mundo todo. A CBS era uma das maiores fábricas de discos. Na Argentina, foram lançados quase todos os discos. E fazia shows lá, no Uruguai, Paraguai. O pessoal achava que eu era francês. Na Argentina, diziam que isso ajudava muito.

Senhor F – Como foi a transição para os anos 70, e como foi trabalhar com o produtor Mauro Motta?

Lafaytte – Com o Mauro foi ótimo. A gente sempre se entendeu muito bem, porque o Mauro também era tecladista. Ele foi um dos primeiros tecladistas do Renato e Seus Blue Caps. Até o Mauro entrar, eu é que gravava com o Renato, órgão, piano. O Mauro foi meu produtor, a gente se dava muito. Ele ia muito lá em casa. O pessoal da CBS ia muito lá em casa, inclusive o Raul Seixas, que era produtor na época. Ele usava o nome de Raulzito. Conheci ele naquela época, a gente batia muito papo, mas não trabalhamos diretamente, só com os artistas que ele produzia.

Senhor F – Além de gravar, o que mais fizeste nos anos setenta?

Lafayette – Nessa época eu já estava fazendo bailes, já com o Lafayette e seu Conjunto. Depois que eu gravei o primeiro disco e estourou, eu tive que mudar o nome do conjunto para Lafayette e se Conjunto. Quando veio os anos setenta, com a discoteque, eu já estava fazendo baile. E baile é bom, é uma escola boa para músicos, para cantores, porque a gente é obrigado a acompanhar tudo que vem, todos os ritmos, todas as tendências, estar por dentro do negócio. O conjunto era muito grande, na época tinha doze integrantes, três metais, três cantores. Paulo Massadas foi cantor do meu conjunto.

Senhor F – Você acha que a Jovem Guarda, assim como o teu papel na história do gênero, tem o devido reconhecimento?

Lafayette – Por parte de músicos, do pessoal do meio musical, existe um reconhecimento. Esse som que a gente fazia, que a gente tirava, o pessoal gosta muito. Agora, o que modificou, é o pessoal da mídia, da televisão, do rádio. Eles não divulgam, e impedem a divulgação. Eles não tocando, as gravadoras também param de lançar trabalhos com aquele som. Até o Roberto podia gravar coisas assim. Veja os Estados Unidos, onde todo mundo tem o seu espaço, o seu pedaço no mercado. Virou um negócio de moda, aqui no Rio, depois São Paulo, se a moda é botar um instrumento tocando e um cachorro latindo, eles vão fazer isso, e o pessaol vai comprar isso, esse disco, porque é o que está na moda. Então, isso pode durar uns dez dias, até vir um outro cara, e inventar outra coisa, e é assim. É tudo negócio de modismo. Acho que isso é um pouco de falta de cultura. Já no resto do Brasil, a gente vai no Rio Grande do Sul, no Paraná, em Santa Catarina, em Minas Gerais, a gente vê um pouco de cada música. Acho, então, que eles estão mais instruídos musicalmente do que Rio e São Paulo, que vão muito pela moda.

PLAYLIST – Ouça a playlist CHASQUI – A vingança de Lafayette, com artistas independentes dos anos 2000 pagando tributo ao mestre do teclado Hammond B3.

+ Ouça também: álbum Petiscos: sabor churrasco“, com Astronauta Pinguim.

Texto originalmente publicado no Facebook

Lafayette, com seu Hammond B3, foi para a Jovem Guarda o que Lanny Gordin, com sua guitarra, foi para o Tropicalismo. Redescobertos pela geração dos anos 2000 em especial, os dois foram fundamentais para forjar a sonoridade dos respectivos movimentos. Aqui, trazemos uma playlist com artistas e bandas que pagaram tributo ao mestre Lafa, ignorado por longos anos. Uns mais, outros menos, mas todos trouxeram para a cena as tecladeiras inconfundíveis que marcaram a música jovem brasileira. (Senhor F Social Club)

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Foto: Divulgação / Reprodução


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