Em 8 de fevereiro de 2001, estreava na Usina do Som, do Grupo Abril, o programa Senhor F – A História Secreta do Rock Brasileiro, com curadoria e apresentação de Fernando Rosa, editor da então Revista Senhor F.

Durante 75 semanas, o programa resgatou da obscuridade discos raros, hits perdidos, cenas regionais, deu visibilidade para artistas e bandas independentes e contribuiu para a construção da memória musical nacional.

Unindo hits, raridades e curiosidades do acervo de Senhor F com nova música independente produzida naquele momento, o programa rapidamente foi adotado por antigos e novos fãs do rock brasileiro e se transformou em um dos mais ouvidos da Usina do Som.

Ao longo das 75 semanas de veiculação, o programa contou com curadoria, produção, texto e apresentação de Fernando Rosa, produção sonora do Estúdio Audio Fidelity (BsB) – Frsncisco, Marcelo e Carlos, e trilhas & BGs de Marcelo Birck e Os Argonautas/Marcelo Moreira (ouçam abaixo).

  • A origem do programa

Além da experiência em programas de rádio “normal”, Senhor F – A história Secreta do Rock Brasileiro resultou de projeto sobre o rock alternativo nacional dos anos 50, 60 & 70, produzido para o selo Rhino Records – frustrado em razão de dificuldades com a viabilização de direitos autorais.

Apresentado à Usina do Som, e a partir de sugestão do editor Pedro Só, o projeto temático ganhou nova versão, mesclando músicas do rock brasileiro das diversas épocas, combinando com a nova cena independente que emergia no país, acompanhada por Senhor F em suas páginas.

Em texto no site da Usina do Som, o jornalista Sérgio Barbo (veja íntegra abaixo), destacando o papel da revista em seus dois primeiros anos, afirmava que “agora, em sua versão radiofônica na Usina do Som, o programa promete surpreender os ouvintes”.

  • Pioneirismo nas redes

Na estreia do programa, em sintonia com seu pioneirismo nas redes sociais, a revista Senhor F em matéria especial registrou que “a Usina do Som entrava o Século XXI disposta a tornar-se uma referência do som de qualidade na Internet brasileira”.

“A Usina do Som vem se destacando como uma das mais ágeis e criativas fontes de informação musical na rede, oferecendo uma série de programas especializados, que apostavam em divulgar o que não toca nas rádios”, afirmava a revista Senhor F.

Saudada com a “primeira web rádio interativa brasileira” pela Folha de S. Paulo, a Usina do Som passou a reunir renomados DJs, músicos e jornalistas como Maurício Valadares, Dj Hum, José Roberto Mahar, Kid Vinil, Ed Motta, Hermano Henning e o ex-Legião Urbana Dado Vila Lobos, com diferentes conteúdos.

  • Ocupando espaços

Na mesma Folha – Ilustrada, sob a chamada “Talentos do rádio brasileiro migram para a Internet“, o jornalista Pedro Alexandre Sanches, destacava que “a Internet, ainda criança, vai se tornando abrigo para profissionais que ficaram sem ter onde atuar pela brutalização em regra das programações de rádios brasileiras”.

“Rato de raridades como Ed Motta é o gaúcho radicado em Brasília Fernando Rosa, que se tornou conhecido nos meios roqueiros alternativos por conduzir o site dedicado à pré-história do rock nacional Senhor F”, destacou o jornalista na matéria.

“Em seu programa Senhor F – A História Secreta do Rock, ele desfila um rosário de preciosidades perdidas do rock brasileiro, que vão de Nora Ney cantando Rock Around the Clock – a primeira gravação de rock no país – a Caetano Veloso com os Mutantes em “A Voz do Morto”, destacou.

  • Abertura do primeiro programa

Em 1955, a cantora de jazz e samba-canção Nora Ney gravou o primeiro rock no Brasil: um cover para Rock Around The Clock, original de Bill Halley e Seus Cometas.

Em seguida, Betinho & Seu Conjunto lançou Enrolando o Rock, assinalando a estréia da guitarra na música jovem nacional – uma Fender Stratocaster.

E, na mesma época, Cauby Peixoto cantou Rock and Roll em Copacabana, o primeiro rock com letra em português de autoria de Miguel Gustavo, o mesmo de Prá Frente Brasil.

Assim, estava lançada a base do nascente rock brasileiro, que antecedeu Tony & Celly Campello, Sérgio Murilo, Demétrius, Ronnie Cord, Albert Pavão e outros ídolos juvenis da nossa primeira geração roqueira.

Na seqüência, vieram o rock instrumental, o twist e, com o estouro mundial dos Beatles, a Jovem Guarda, nossa resposta à Invasão Britânica, que arrombou todas as fronteiras.

Ainda os Beatles de Sgt Peppers, misturados com John Cage e música regional, alimentaram o caldeirão da Tropicália, talvez nossa mais radical e bem acabada expressão musical.

E, em meio a tudo isso, adentrando aos anos setenta, o som de garagem, a psicodelia, o soul-funk, o rock rural, o som progressivo e o rock “made in Brazil”.

Nos anos oitenta, o rock nacional atingia a maioridade, impulsionado por uma nova legião de roqueiros nascida do punk setentista, com liguagem musical e poética afiada, do que é maior exemplo o brasiliense Renato Russo.

Desde então, alguns poucos heróis povoaram o imaginário juvenil, enquanto ganhou corpo o culto aos clássicos, que culmina com a “redescoberta” dos Mutantes em pleno 2001, dentro e fora das fronteiras nacionais.

Aos poucos, obras fundamentais vão sendo relançadas pela indústria discográfica, ao mesmo tempo em que outras menos óbvias, por meio dos benvindos CDrs abrem seu merecido espaço, a exemplo de Ronnie Von e seus álbuns psicodélicos.

A partir de agora, o programa SENHOR F – A HISTÓRIA SECRETA DO ROCK BRASILEIRO vai resgatar um pouco desses sons que construiram essa memória quase esquecida, que já beira os cinqüenta anos de vida.

Na Usina do Som, então, com vocês as raridades, principalmente, e as curiosidades do rock brasileiro de todos os tempos, em grande parte ainda no velho e charmoso formato vinil. Ouçam, divirtam-se, divulguem e, se possível, colaborem com nosso programa, enviando sugestões e críticas.

PROGRAMA 1
(08/02/2001)

NORA NEY – Rock Around The Clock
CAUBY PEIXOTO – Rock and Roll em Copacabana
BETINHO E SEU CONJUNTO – Enrolando o Rock
O’SEIS – Suicida
MUTANTES – Lady Madona
MUTANTES – Ando Meio Desligado (vs. Alternativa/cpto)
MUTANTES – Quem Tem Medo de Fazer Amor (ao vivo/TV Cultura, 69)
MUTANTES – Cavaleiros Negros (com Serginho)
WONDERMINTS – Arnaldo Said
JÔ SOARES – Vampiro
THE OUTCASTS – Weird Ties, Wide Belts And … (pré-Soma)
GAL COSTA & BRUNO FERREIRA – Homem de Neanderthal (trilha Brasil 2000)
RONNIE VON – Silvia, 20 Horas, Domingo
SPECTRUM – Trilha Antiga
LULA CORTÊS & ZÉ RAMALHO – Nas Paredes da Pedra Encantada, os Segredos Talhados por Sumé (Paêbirú)
THE AVALONS – China Rock
SOM BEAT – My Generation
OS CASCAVALETTES – O Dotadão (original Vórtex)
RAIMUNDOS – Desculpe, Mas Eu Vou Chorar (Cult Cover Demo)
THE BEATNIKS – Era Um Rapaz Que Com Eu Amava Os Beatles e Os Rolling Stones
O TERÇO – Shine Days, Summer Night (Criaturas da Noite)

  • Senhor F estréia na Usina do Som

Por Sérgio Barbo

Surgindo com a intenção de resgatar capítulos obscuros do pop brasileiro, a “corporação” Senhor F é o mais novo agregado à Usina do Som. Idealizado pelo jornalista e colecionador gaúcho Fernando Rosa, o programa Senhor F, nesta estréia, pretende mostrar importantes artistas brasileiros – famosos ou não – e passar raras informações para o público, mas sem cair na tentação da pretensão didática. “O programa não quer doutrinar ninguém. Por isso, vamos enfocar vários artistas e estilos, desde os primórdios do rock brasileiro até as últimas novidades”, conta o colecionador.

Criado há dois anos por Fernando como uma variada revista eletrônica, o Senhor F vem, desde então, conquistando elogios e público cativo, com suas matérias curiosas e divertidas. Agora, em sua versão radiofônica na Usina do Som, o programa promete surpreender os ouvintes.

Na estréia teremos, por exemplo, a primeira gravação feita de um rock no Brasil, “Rock Around The Clock”, versão de1955 do sucesso de Bill Haley, realizada pela cantora de jazz e samba-canção Nora Ney. Seguindo por essa área desbravadora dos primórdios do pop nacional, o programa vai mostrar o primeiro rock com letra em português, “Rock and Roll em Copacabana” (de autoria de Miguel Gustavo), cantada por Cauby Peixoto, além de apresentar também a canção que introduziu a guitarra na música jovem brasileira, “Enrolando o Rock”, de Betinho & Seu Conjunto.

Outras passagens curiosas são as raridades como o grupo O’Seis (formação que originou os Mutantes), Jô Soares atacando de roqueiro em “Vampiro” e Ronnie Von em sua fase tropicalista, com “Silvia, 20 Horas, Domingo”. Como os Mutantes estão em alta aqui e lá fora, outra atração interessante desse programa de estréia é a banda americana Wondermints, que faz uma homenagem ao líder da banda brasileira, Arnaldo Baptista, em “Arnaldo Said”. Mas como nem só de memória vive o Senhor F, os Raimundos também são postos em foco com sua estranha versão do sucesso sertanejo “Desculpe, Mas Eu Vou Chorar”, de Leandro & Leonardo.

Essas e outras preciosidades foram coletadas ao longo de várias décadas por Fernando Rosa, um verdadeiro arqueólogo pop que vem colecionando discos desde os anos 60, quando ainda morava em Pinheirinhos, no interior do Rio Grande do Sul. Nos anos 70, mesmo enveredando pelo Jornalismo e Economia, ele continuou ouvindo e colecionando música, a ponto de até organizar festivais na universidade. Nos anos seguintes, paralelamente aos seus trabalhos em jornais como A Folha de São Paulo e A Hora do Povo, Fernando se dedicou a programas de rádio como o Heartbeat (transmitidos em Porto Alegre e Brasília) e também ao jornalismo musical, escrevendo matérias para jornais e revistas.

E foi exatamente a partir de uma matéria sobre bandas de garagem brasileiras, feita para a revista Bizz, em 1994, que surgiu a idéia de se fazer o Senhor F. Garimpando velhos discos por lojas de todo o país, Fernando adquiriu material suficiente para ser editado em vários programas. Concebido primeiramente como um programa de rádio convencional, o projeto se transformou em uma interessante revista eletrônica na Internet. E agora, em seu novo formato na Usina do Som, o Senhor F promete para os próximos programas mais raridades e relatos do pop brasileiro, como as pouco conhecidas histórias da black music nacional e da psicodelia tropical.

* Texto publicado na Usina do Som, em 8 de fevereiro de 2001, por ocasião da estreia do programa Senhor F.

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