O saxofone do Norte brasileiro é um fenômeno ainda por ser estudado pelos historiadores da música brasileira. Tem pouco, ou quase nada, a ver com o som tradicional da MPB e menos ainda com o jazz, a não ser referências indiretas. Em sua gênese, estão um pouco de choro, carimbó, forró e música latina, como mambo, cumbia e merengue. Em especial, a influência do instrumental dos grupos dominicanos.
Os saxofonistas foram reis das festas dos beiradões pelo interior da região amazônica, seja no Pará ou no Amazonas. Alguns nomes chegaram ao Sudeste, com discos gravados ou distribuídos por selos influentes da época, como Teixeira de Manaus, Chiquinho David e Chico Caju. Mais recentemente, alguns deles foram redescobertos junto com os guitarristas da lambada-guitarrada, pelo esforço dos paraenses e amazonenses.
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Teixeira de Manaus,o “solista de sax”
Teixeira de Manaus é um dos nomes mais conhecidos além da região Norte, por sua fusão de música regional, lambada e ritmos latinos. Chiquinho David, ao lado de Teixeira de Manaus, foi um dos primeiros a eletrificar o som do beiradão, antes limitado ao instrumental acústico. Chico Caju, por sua vez, promoveu mais intensamente a mistura do choro, do carimbó do Pará, com os gêneros nordestinos.
O saxofone amazonense é parceiro de origem dos contemporâneos paraenses, formados pela influência do carimbó, do siriá e dos ritmos caribenhos, especialmente o merengue. Do Amazonas, além dos já citados, destacam-se Agnaldo do Amazonas, Souza Caxias, Aurélio do Sax e Admilton do Sax. Entre os paraenses, Mestre Cupijó, um caso à parte, Pantoja do Pará, Manezinho do Sax, Paulinho do Sax e Xavier.
Natural de Cametá, Mestre Cupijó, além de saxofonista, é um dos nomes mais importantes da música brasileira. Pantoja do Pará, vindo de Igarapé-Miri, gravou seis LPs que fizeram dele um nome de importância nacional. Manezinho do Sax é outro destaque da cena paraense, com carreira construída nos grupos Os Populares de Igarapé-Miri, Uirapurú, do Mestre Verquete, e Warilou.
Atualmente, assim como a guitarra, o saxofone começa a ser revalorizado na região Norte. No Amazonas, vale destacar a Orquestra de Beiradão do Amazonas, que pagou tributo ao “beiradão” com disco lançado em 2017, e também os novatos do Grupo Tucandeira, de Manaus. No Pará, um dos músicos que está à frente disso é Daniel Serrão, saxofonista da banda de Dona Onete e estudioso de Mestre Cupijó.
Um disco clássico: Teixeira de Manaus – Solista de Sax (1981)
O saxofonista Teixeira de Manaus é o principal artífice do gênero musical “beiradão”, criado e batizado no estado do Amazonas, no início dos anos oitenta. O disco “Solista de Sax”, que marcou a estreia de Teixeira de Manaus, é o marco zero do gênero, gestado desde os anos setenta.
Lançado em 1981, com produção de Pinduca, e acompanhamento de seu conjunto, incluindo Mário Gonçalves, o disco é um clássico do instrumento. Convidado por Pinduca, que o conheceu em Manaus, Teixeira de Manaus lançou “Solista de Sax”, em 1981, abrindo uma série sob este título.
O disco é uma espécie de “manual” para os futuros saxofonistas da região, incluindo temas clássicos como a faixa de abertura “Lambada para dançar”. Em parceria com Mário Gonçalves, guitarrista do conjunto de Pinduca, Teixeira de Manaus assina a faixa “Beiradão”, última do lado “b”, emblemática por batizar o gênero.
- “Quando chegou o disco, foi um negócio fora do comum. O disco vendendo, vendendo e “Lambada pra dançar” tocando em todo canto”, disse ele em entrevista ao jornal A Crítica, de Manaus, em julho de 2012, falando da repercussão do disco de estreia. “Falaram que o disco vendeu mais de 100 mil cópias, mas eu não acredito em povo de gravadora. Eles falam em 100, deve ter vendido 500”, disse ele na mesma entrevista.
O disco traz ainda uma parceria com o próprio Pinduca, a música “AUÊ-RA-UÊ”, e outra com Mário, “Cumbiando”. Outro tema latino é “Merenguê, merengá”, que abre o caminho para as sonoridades dançantes que se sucederam em sua obra.
Teixeira de Manaus gravou dezesseis discos, desde que foi descoberto pelo paraense Pinduca, em Manaus, em 1979. São dele outros sucessos como “Deixa meu sax entrar”, “Balançando o sax” e “Balanço do Norte”.
Foto: Senhor F Social Club






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