“Mestre Vieira criou um gênero. Isso em qualquer lugar do planeta é importantíssimo”, afirmou Boanerges Nunes Lobato Junior (o guitarrista Pio Lobato; veja no pé da matéria) na tese “Guitarrada, um gênero do Pará” (Universidade Federal do Pará, 2001).

O inventor da lambada, rebatizada de guitarrada – a lambada com guitarra, nasceu em Barcarena, no interior do estado do Pará, na região Norte do Brasil, em 29 de outubro de 1934

Nos anos sessenta, ainda adolescente, o futuro Mestre Vieira trocou o bandolim, instrumento base de sua formação musical, o chorinho, pela guitarra elétrica que “descobriu” ao assistir um filme, em um cinema em Belém.

Seu disco Lambadas das Quebradas, lançado em 1978, é reconhecido como o marco zero de um movimento que conquistou o Norte do país, a lambada, ou a guitarrada – a lambada de guitarra.

Em sua longa carreira, Mestre Vieira, com Seu Conjunto e em discos solo gravou duas dezenas de álbuns, sendo 13 deles em vinil, deixando um amplo legado para a música nacional.

Mestre Vieira é o “pai” do gênero musical mais importante surgido no Brasil moderno, pós-Bossa Nova, Tropicalismo e Jovem Guarda. Mestre Vieira morreu em 2 de fevereiro de 2018, aos 83 anos.

A lambada “classe A” de Aldo Sena

Influenciando por Mestre Vieira, Aldo Sena é outro herói da guitarra em todos os sentidos. Seu nome ganhou visibilidade nacional em meados dos anos dois mil com a antológica caixa “Mestres da Guitarrada”, lançada em 2004.

Aldo Sena iniciou sua carreira com Os Populares de Igarapé-Mirí, no disco de estreia Lambadas Incrementadas, lançado em 1981, único registro dele com o grupo. Em seu segundo disco solo, registra as clássicas Lambada Complicada, Lambada Classe A e “Solo de Craque”.

Durante os anos oitenta, Aldo Sena gravou vários discos, destacando-se Aldo Sena e Seu Conjunto (1984), Aldo Sena e Seu Conjunto (1986) e Aldo Sena (1987). Na mesma década, tem a coletânea Les Plus Belles Lambadas Bresiliennes d’Aldo Sena, lançada na França.

A partir dos anos noventa, até 2021, lança diversos discos individuais, além de dividir os álbuns Mestres da Guitarrada com Mestre Vieira e Mestre Curica, e Guitarradas do Pará, com Curica.

Mário Gonçalves, outro “inventor” musical

O guitarrista Mário Gonçalves é outro guitarrista que merece destaque não apenas por sua qualidade técnica e autoral, mas também pela sua história particular.

É dele o solo na música Lambada no disco No Embalo do Carimbó e Sirimbó, Volume 5, de seu irmão Pinduca, lançado em 1976. Outro feito de Mário Gonçalves é a introdução da guitarra no carimbó, em lugar do tradicional banjo. Também integrou a banda de Pinduca por mais de 20 anos, gravando 15 discos.

Natural de Igarapé-Mirí, Mário Gonçalves gravou seis discos, sendo o primeiro, Guitarrando na Lambada, lançado em 1982, pelo selo Copacabana. Na sequência gravou os discos Mário Gonçalves (84), Guitarrando (85), Guitarrando – Vol 3 (também 85), Mário Gonçalves (87) e Na Lambateria (88).

Solano, hit amazônico e discos clássicos

Outro nome destacado entre os grandes guitarristas do Pará é Solano, natural de Abaetetuba. O disco de estreia – Solano e Seu Conjunto – Volume 1, gravado nos estúdios da Gravasom, em Belém, foi lançado em 1984.

O seu grande sucesso veio no segundo disco, lançado um ano depois, com a música Americana, de autoria do conterrâneo Frank Carlos. Um dos grandes hits amazônicos, a música cruzou décadas e gerações, sendo cantada até hoje.

Em seu último disco, lançado em CD, em 2014, Mestre Solano exibiu toda a exuberância musical e instrumental conquistada ao longo da carreira. No disco, a música Rei Solano, com participação do violonista Sebastião Tapajós, é o tributo definitivo à sua obra.

Oséas, a lambada nortista e brasileira

Natural do estado do Amazonas, o guitarrista Oseas (e Sua Guitarra Maravilhosa) iniciou a carreira na cena musical de Belém, no estado do Pará.

Em 1983, grava o primeiro disco da série Guitarradas, pela gravadora Gravasom, sob o codinome de Carlos Marajó, depois assumido por Aldo Sena. Nos anos oitenta, gravou cinco discos solo e um com o grupo paraense Lambaly.

No mesmo ano, lançou seu primeiro disco solo – Oseas e sua guitarra maravilhosa – série de lançamentos sob esse título. Em 1984, lança o segundo volume da série, que ganhou um relançamento em 1991.

Em 1985, é a vez do terceiro volume e, em 1986, lançou o derradeiro disco da série. Seu quinto disco, batizado de “Lambada brasileira” é lançado em 1989, com a assinatura de Oseas e Sua Guitarra apenas.

André Amazonas, brincando com as cordas

André Amazonas, nasceu em Caapiranga, no interior do Amazonas, onde começou tocando cavaquinho e, aos 16 anos, trocou o instrumento pelo saxofone.

Aos 20 anos, devido a uma doença pulmonar, passa a tocar guitarra. Exímio instrumentista e dono de um estilo particular, André Amazonas valorizou como poucos a guitarra e a música popular regional.

Nesse período, lança quatro discos – Brincando com as cordas (1985), Uma guitarra especial (1986), Uma guitarra na lambada (1987) e A guitarra do povo (1989).

Os quatro discos são exemplares da musicalidade amazônica construída na década de oitenta, que resultou na lambada e na guitarrada. Antes de morrer, em 2015, participou do disco Guitarreiro, de Rosivaldo Cordeiro.

Evandro Cordeiro, Barata, um gênio interrompido

O guitarrista Barata, batizado Evandro Cordeiro, é um dos instrumentistas mais apaixonantes da lambada paraense surgida nos anos oitenta, por conta da sonoridade particular de sua guitarra, limpa e melódica.

Irmão de Manoel Cordeiro, e morto precocemente, Barata nasceu em Macapá, no Amapá, filho de pais músicos. Na juventude, já em Belém, participava de conjuntos de baile.

Seu disco de estreia – Barata, sua voz e sua guitarra, lançado pela gravadora Gravasom, com temas instrumentais e cantados, é um clássico da música do Pará, do Norte e do Brasil.

A partir de meados dos anos oitenta, foi músico de estúdio da Gravasom, junto com Manoel Cordeiro. Até o final da década, gravou dezenas de discos acompanhando os músicos mais importantes da região.

Magalhães da Guitarra, o mestre de Xangô

Batizado Raimundo Magalhães, o amazonense Magalhães da Guitarra gravou três LPs e seis CDs. Um clássico da lambada, o disco de estreia foi gravado na Gravasom, de Belém, e lançado em 1986. A música Xangô foi incluída na coletânea Jambu, do selo Analog Africa, com música amazônica.

O segundo disco – Bicho Bom – também foi gravado na Gravasom e lançado em 1990. O terceiro disco – Vem Bailar Comigo, ainda em vinil, foi gravado em Manaus, em 1993, e lançado no ano seguinte.

Ao lado de Oseas e de André Amazonas, Magalhães completa o trio de mestres da guitarra no estado do Amazonas.

Marinho, um disco clássico e raro da lambada

O guitarrista Mário Simões, conhecido por Marinho Guitarra de Ouro, de Belém, iniciou a carreira como integrante do grupo de Mestre Solano, com quem gravou os três primeiros discos.

Em 1986, Marinho lançou seu primeiro e único disco batizado Melô da Pirâmide, gravado na Gravasom, em Belém, para o selo Discos Polydisc. O disco é uma das obras mais raras da discografia da música amazônica.

Deusimar da Guitarra,a lambada do Ceará

De Fortaleza, Ceará, o guitarrista Deusimar da Guitarra, deu a contribuição do Nordeste para a lista de grandes guitarristas da lambada. Em 1987, lançou seu único disco, com lambadas marcadas pelas sonoridades nordestinas.

Gilson, na transição da lambada

O guitarrista Gilson é um nome talvez “perdido” na história da origem da lambada, no início dos anos oitenta. Natural de Manaus, estado do Amazonas, ele gravou um único LP pelo selo regional Araponga, distribuído pela Polygram. O disco “Balançado a moçada” foi lançado em 1983,

PLAYLIST – Ouça a playlist Lambadas e guitarradas classe A, em Senhor F Social Club, com os guitarristas clássicos e também da nova geração do Pará e do Amazonas.

Pio Lobato com Mestre Vieira no estúdio, em Belém

Pio Lobato, membro do Cravo Carbono e guitarrista da banda de Dona Onete, com Mestre Vieira

Foto: Reprodução /  Documentário Coisa Maravilhosa / Divulgação



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