A gravadora Gravasom é um dos fenômenos clássicos da indústria musical dos anos oitenta. Assim como em outros países, ela surge com a definitiva popularização mundial e nacional da mídia vinil.
Igual a seus pares internacionais, a Gravasom cresceu e consolidou seu espaço atuando em nicho, no caso regional, no Norte do Brasil, e musical – lambada e brega, principalmente.
Em atividade desde os anos setenta, a Gravasom é obra do radialista, empresário e cantor Carlos Santos. Desde Belém, a gravadora deu bases para a produção musical e criação de um inédito mercado regional.
Mais do que isso, formatou uma fórmula musical que resultou em dois gêneros fundamentais para a música do Norte – a lambada e o brega, além do beiradão (no Amazonas).
Até os anos oitenta, a alternativa para os artistas do Norte era gravar em Recife, na Rozemblit, ou em São Paulo e Rio de Janeiro. Mestre Cupijó, por exemplo, teve seus dois primeiros discos gravados nos anos setenta pelo selo Escorpião, da Ronzemblit. A Gravasom permitiu que os artistas populares do Norte pudessem gravar um disco.
“O Carlos Santos montou um esquema muito interessante. Ele tinha o estúdio para gravar, a rádio para tocar, a distribuidora para colocar os discos nas lojas e a rede de lojas para vender os discos”, diz o guitarrista e produtor Manoel Cordeiro, na revista Seleta, publicada em Belém.
Na base da rede, estava o estúdio de gravação, que contava com a genialidade do cantor, compositor e produtor Alípio Martins e músicos de primeira qualidade. No início dos anos setenta, Pinduca e seu grupo respondiam pelas gravações dos artistas, cantores e instrumentistas.
A partir de 1983, o grupo de Manoel Cordeiro acompanhou centenas de artistas. O estúdio iniciou com 4 canais, passando para 16 e, por fim, 24 canais. Em atividade até hoje, Manoel é uma espécie de memória viva da história da gravadora e daquela época fundamental para a música brasileira.
Entre os artistas que foram lançados pelo selo Gravasom, além de Carlos Santos e Alípio Martins e do guitarrista Barata, estão Roberto Villar, Tonny Brasil, Kim Marques, Mauro Cotta e grupos como Os Panteras e Lambaly, entre outros.
Pelo estúdio da Gravasom, também passaram a maioria dos artistas da Região Norte, como osguitarristas André Amazonas e Magalhães da Guitarra, o saxofonista Chico Caju e o cavaquinista Nonato do Cavaquinho, os três do estado do Amazonas.
- Duas séries clássicas
Em sua estratégia de construção de um mercado, a Gravasom contou com duas iniciativas editoriais de sucesso.
A primeira, a série Guitarradas, assinada por Carlos Marajó, um guitarrista fictício – na verdade, Aldo Sena e Oseas, especialmente. A outra, também uma série, Lambadas Internacionais, com merengues, calipso e zouk das Antilhas.
A primeira teve 7 volumes e a segunda 10 volumes. Também foi importante a coletânea Gente da Terra, em dois volumes, destacando os artistas do brega.
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- Papel cultural histórico
Em uma década, a Gravasom promoveu um inédito mercado regional gerado a partir de Belém que chegava até o norte da Bahia, amparado em acordos da Gravasom com selos grandes, como Continental e a Polygram.
No entanto, mais importante do que a quantidade de discos vendidos é ter sido a base do desenvolvimento de um dos mais importantes gêneros modernos da música brasileira, a lambada-guitarrada, vivo até hoje.
- Texto adaptado do livro Ondas Tropicais – A invenção da lambada e do beiradão na Amazônia moderna, de Fernando Rosa (disponível na Amazonas; link abaixo na imagem)
Foto: Senhor F Social Club (capas de discos do acervo)
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