“Mucho debe Cuba a sus músicos populares”, afirmou o escritor Alejo Carpentier, autor do livro “A música em Cuba”, um estudo sobre as influências afro-europeias na arte musical cubana.

A bem da verdade, o mundo deve muito à música cubana, mas também à música produzida em todo “o grande Caribe”, como definiu outro escritor, o colombiano Gabriel Garcia Marques.

Além do jazz, do blues e da soul music norte-americanos, a música negra oriunda de Cuba, Haiti, Trinidad e Tobago, República Dominicana, Guadalupe e Jamaica penetraram em mercados e culturas regionais e mundiais.

Um dos maiores nomes da música cubana, Benny Moré e orquestra com o bolero Como fue

A partir dos anos quarenta, a música cubana “mandou” no mercado da música mundial e influenciou a cultura musical de países e mesmo continentes, especialmente da África, que adotou os ritmos de Cuba desde os anos quarenta.

Qual região do mundo produziu, em pouco mais de meio século, tantos gêneros musicais como o son, o bolero, o mambo, a rumba, o merengue, o calypso, a salsa, o cha-cha-chá, o compas, o cadence, a lambada, a soca, o reggae e o zouk?

Além dos cubanos reconhecidos, artistas e grupos dos demaís países/ilhas da região como Exile One, Gramacks, Midnight Groovers, Lord Shorty, Les Shleu Shleu, Tabou Combo, Les Aiglons e Kassav também fizeram história e deixaram um incrível legado discográfico.

No Brasil, a influência da música caribenha é presente na sonoridade de artistas do Norte do país (ouçam a “crônica” Balanço Criolo, com Dona Onete), especialmente a partir dos anos setenta, nos estados do Pará, do Amazonas e ainda no Maranhão, neste caso com o reggae.

Sessão de ensaio dos membros originais da banda haitiana Les Shleu Shleu. em 1980

Etnomusicológos também buscam compreender, ou pelo menos chamar a atenção, para a influência exercida pelos gêneros citados na geração de diferentes gêneros musicais em outras regiões, como as já citadas África e no Norte do Brasil.

Ainda é motivo de estudos acadêmicos explicar a penetração em culturas alheias de gêneros musicais de uma região periférica do planeta, considerando as condições econômicas e geopolíticas adversas.

Apresentação comemorativa aos 45 anos da banda Les Aiglons, de Guadalupe

Neste momento em que o mundo faz seu giro secular para novas rotas políticas e econômicas, se impõe resgatar a importância da influência e o papel cultural da música caribenha na música regional e mundial.

Para tal, é importante destacar os principais gêneros musicais, seus criadores e artistas mais, obras clássicas e gravadoras como a Disque Debs Internacional, de Henri Debs, de Guadalupe (veja abaixo).

Para contribuir com este momento, e sem pretender a profundidade de um estudo sociológico, “O Grande Caribe” vai trazer textos em forma de literatura pop, nos moldes do livro “Ondas Tropicias – A invenção da lambada e do beiradão na Amazônia moderna“.

ONDE OUVIR: Cadence Revolution (Disques Debs Internacional Vol 2) destaca os principais hits e representantes do cadence das Antilhas Francesas, uma fusão inconfundivelmente caribenha de big band haitiana, mini-jazz e grupos de compas , com calipso, reggae, e rumbas de Cuba e do Congo, juntamente com biguine local. (Afrop Worldwide)

+ HAITI DIRECT – Big band, mini jazz & twoubadou sounds, 1960-1978 (Strut Records), Volumes 1 & 2

Foto: Senhor F (LPs de Les Shleu Shleu e Selecta Martinique do acervo de Senhor F Social Club).

3 respostas para “O ‘Grande Caribe’ e sua influência na criação e no mercado mundial da música”

  1. Avatar de José Juvenal Gomes
    José Juvenal Gomes

    Nos anos 30 Mário de Andrade anotava a influência da música caribenha nos cultos religiosos do Norte brasileiro.
    “Seria talvez interessante determinar se a parte africana da pajelança nortista é uma ramificação do candomblé baiano ou antes uma influência da feitiçaria antilhana. Minha opinião é precária, mas é certo que propendo para a segunda hipótese. Cuba influenciou grandemente toda a costa Atlântica da América do Sul, no século XIX principalmente, tendo como causa principal dessa influência as navegações intercontinentais.”
    Mário de Andrade in Música de Feitiçaria no Brasil, p71.

  2. Além disso, também a ver com os modernistas, o maior poema épico, amazônia, é Cobra Norato, de Raul Bopp.

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