No início dos anos 2000, Senhor F produziu um projeto de 4 CDs com a história do rock brasileiro para o selo Rhino Records, que acabou frustrado por dificuldades com a viabilização de direitos autorais.

O projeto ampliado e atualizado acabou gerando outro produto, o programa Senhor F – A História Secreta do Rock Brasileiro, veiculado na Usina do Som, da Editora Abril, por 75 semanas.

Passados cerca de 20 anos, trazemos o conteúdo da série original, com a curadoria e comentários do editor da então Revista Senhor F, Fernando Rosa.

  • Neste volume (2), destacamos a cena psicodélica mais radical do final dos anos sessenta e primeira metade dos anos setenta, sem incluir o tropicalismo (que pode ser ouvido na playlist).

O primeiro CD abrange os anos 50, o segundo e o terceiro a garagem e a psicodelia, respectivamente, e o quarto o hard rock e o progressivo dos anos setenta.

A arte dos CDs foi idealizada e produzida por Olímpio Cruz.

Veja também:

Liverpool/Impressões Digitais
(Lais Marques)

  • Música do álbum “Por Favor Sucesso”, clássico do rock gaúcho e nacional, de 1969, “Impressões Digitais” destaca a guitarra psicodélica de Mimi Lessa, um dos melhores da época. Oriundos do bairro operário do IAPI, na Zona Norte de Porto Alegre (RS), o Liverpool iniciou tocando Rolling Stones, mas acabou na psicodelia, regada a toques de Almann Brothers e Santana, no início dos setenta. Integrado por Mimi (guitarra), Edinho (bateria), Fuguetti (cantor), Pekos (baixo) e Marcos (base), foi um dos melhores conjuntos daquela. Na década de setenta, já no Rio de Janeiro, transformaram-se no stoniano Bixo da Seda, que também deixou um ótimo álbum homônimo pelo selo Continental.

Zé Ramalho & Lula Côrtes/Nas Paredes da Pedra Encantada, Os Segredos Talhados por Sumé
(Zé Ramalho & Lula Côrtes)

  • Música do disco Paebirú, um dos mais estanhos e desconhecidos discos de toda a história da música brasileiro moderna, com a dupla Lula Côrtes & Zé Geraldo, mais a participação de Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Paulo Rafael, entre outros. Gravado em 1975, nos estúdio da gravadora Rozemblit, em Recife, a maior parte da prensagem foi levada pelas águas em uma enchente do rio Capiberibe, o que fez do álbum dupla uma das peças mais raras da discografia nacional. Alucinadamente psicodélico, as onze músicas que integram a obra, dividida em quatro lados/momentos – água, terra, fogo e ar – são a face mais radical da nova linguagem sonora que a “invasão” nordestina introduziu na música jovem dos anos setenta.

Mutantes/The Rain, The Park and Other Things
(Korfeld – Duboff)

  • Canção original do grupo americano The Cowsills, que ganhou uma versão arranjada por Rogério Duprat, para o seu disco solo “A Banda Tropicalista do Duprat”, lançado em 1968, no qual os Mutantes ainda intepretam mais três músicas – “Lady Madona”, “Canção para Inglês Ver/Chiquita Bacana” e “Cinderella Rockfella”. Praticamente desconhecido, o álbum é um dos mais raros trabalhos do “maestro do rock”, que ao lado dos baianos Gilberto Gil e Caetano Veloso e dos Mutantes, revolucionou a música brasileira dos anos sessenta. Fiéis ao espírito daquele momento, Arnaldo, Rita e Serginho demonstram sua identidade musical com o som pop e psicodélico produzido em todo o mundo.

Brazões/Gotham City
(Macalé – Capinam)

  • Original de Jards Macalé e do poeta José Carlos Capinam, “Gotham City” veio à tona nos anos oitenta, por meio do cover punk dos baianos Camisa de Vênus, de Marcelo Nova. Aqui, em sua versão original, tem interpretação do grupo Os Brazões, integrado pelos paulistas Miguel (guitarra base) e Eduardo (bateria), pelo maranhense Roberto (guitarra solo) e pelo paranaense Taco (baixo). A música, em versão psicodélica, com guitarras distorcidas, participou do IV Festival Internacional da Canção Popular. A mesma canção também faz parte do raro e excelente álbum “Os Brazões”, único gravado pelo grupo, lançado em 1970.

Os Baobás/Light My Fire
(The Doors)
Uma das melhores e mais comentadas bandas dos anos sessenta, que teve seis formações diferentes, incluindo a participação de Liminha (ex-Thunders, Lunáticos e Mutantes, e produtor nos anos 80 e 90). Originalmente chamados Rubber Souls, estrearam tocando Beatles no programa JR Juventude, no Canal 4, e gravaram seu primeiro compacto, com Pintada De Preto/Painted Black e Bye Bye My Darling, editado já com o novo nome – Os Baobás. Gravaram cinco compactos e um LP ao longo de seus quatro anos de vida – de 65 a 68, incluindo o raro cover para Light My Fire (The Doors).

Spectrum/Trilha Antiga
(Spectrum)

  • Música do único álbum de um dos mais raros grupos de psicodelia do Brasil, formado eventualmente pelos atores e participantes do filme “Geração Bendita”, dirigido por Carlos Bini e rodado em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, em 1971. Denominado Spectrum, o grupo integrado pelos músicos/atores Toby, Fernando, Caetano, Serginho e David gravaram o disco também chamado “Geração Bendita”, com guitarras distorcidas e letras falando do clima do filme e da época. Lançado no mesmo ano da produção do filme, o disco é uma das peças mais raras da discografia do rock nacional, ainda inédito em cd.

Módulo 1000/Turpe Est Sine Crine Caput
(Módulo 1000)

  • Grupo carioca hard-psicodélico-progressivo formado no início dos anos setenta. Integravam o grupo Luis Paulo (órgão, piano, vocal), Eduardo (baixo), Daniel (guitarra, violão, vocal) e Candinho (bateria). Gravaram um único Lp chamado “Não Fale Com Paredes”, pelo selo Top Tape, em 1975. O Lp original, incluindo a capa, foi relançado em cd em 1998, pelo selo Projeto Luz Eterna. Também teve a música Lem Ed Êcalg (Mel de Glacê, ao contrário) incluída na coletânea de bandas psicodélicas latinas, “Love, Peace & Poetry”, ao lado do Som Imaginário.

Brazilian Octopus/Momento B8
(Rogério Duprat – Brazilian Octopus)

  • Banda que tinha entre seus integrantes mais ilustres Lany Gordin, Olmir Stocker, que iniciou tocando com o grupo Poposky e Seus Melódicos, em Porto Alegre, e Hermeto Paschoal, três dos maiores instrumentistas da história da música brasileira, nas décadas seguintes. Além de shows para a empresa Rhodia, deixaram um LP homônimo gravado pelo selo Fermata, contendo alguns clássicos, como “O Pássaro”, de Lanny, regravada nos anos noventa por Catalau, ex-vocalista do GoLpe de Estado, em seu cd solo, pela Baratos & Afins. Um dos momentos mais psicodélicos do disco, a faixa “Momento B/8”, é de autoria conjunta do Brazilian Octopus e Rogério Duprat, que também participava das invenções sonoras do grupo de músicos.

Utopia/Coração de Maçã (*Lírio, ao vivo nos estúdios da Rádio Continental)
(Bebeto Alves)

  • Gravada ao vivo nos estúdio da Rádio Continental de Porto Alegre, em 1975, é um dos clássicos do grupo gaúcho que enriqueceu a sonoridade progressiva nacional com sua mistura de folk, música regional e toques orientais. Formado por Bebeto Alves – que desenvolveu carreira solo – (guitarra, viola de 12 e flauta), Ricardo Frota (violino) e Ronald Frota (violões), com idades entre 19 e 21 anos, foi um dos principais grupos do rock gaúcho dos anos setenta. Responsáveis por longos e viajantes shows ao vivo, não deixaram nada gravado, além de registros esparsos como a gravação de “Coração de Maçã”, resgatada pela coletânea “A Música de Porto Alegre”, produzida pelo jornalista Gilmar Etelvain e editada pela Secretaria de Cultura do Município de Porto Alegre, em 1994.

    * Na falta da versão digital de Coração de Maçã.

Moto Perpétuo/Os Jardins
(Guilherme Arantes)

  • Influenciada pela sonoridade do grupo inglês Yes, a música integra o LP “Moto Perpétuo”, lançado em 1974, do grupo progressivo paulista, liderado por Guilherme Arantes, que depois desenvolveu importante carreira solo. Produzido por Julio Nagib, com “supervisão de som” de Peninha Schmidt, e lançado pela gravadora Continental, que investia em grupos nacionais, é um dos grandes álbuns produzidos na década de setenta. Integravam o grupo, além de Guilherme Arantes (teclados e vocal), Egydio Conde (guitarra), Diógenes Burani (bateria), Gerson Tatini (guitarra e vocal) e Claudio Lucci (baixo).

A Barca do Sol/Belladona, The Lady of The Rock
(Nando Carneiro – Geraldo Carneiro)

  • Música com letra influenciada pelo escritor Carlos Castañeda, que integra o álbum “Durante o Verão”,lançado em 1976, pela gravadora Continental, e que radicalizou a mistura de rock, MPB e progressivo produzida pelo grupo. Formada em 1973, A Barca do Sol contou com a participação de Nando Carneiro (violão, viola e voz), Jacques Morelenbaum (violoncelo acústico e elétrico, piano e voz), Muri Costa (viola e voz), Marcelo Costa (bateria e percussão), Alain Pierre (baixo acústico e elétrico e voz), Beto Rezende (guitarra, violão e viola), David Ganc (flauta), Marcelo Bernardes (flauta), além das “barquetes” Olivia Byington e Paula Morelenbaun. As letras, em sua maioria, eram escritas pelo poeta Geraldinho Carneiro, irmão de Nando.

Soma/P. F.
(Soma)

Música P.F. do LP O Banquete dos Mendigos, gravado ao vivo em 1974, em comemoração dos 25 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Integravam o grupo o ex-The Outcasts, Bruce Henry (baixo), mais Jaime Shields (guitarra), Alírio Lima (bateria e percussão) e Court (vocal e flauta) – ou seja, Richard Court, o futuro Ritchie. O grupo ainda gravou mais quatro músicas, que integram a obscura coletânea Barbarella, lançada em 1971.

O Terço/Shining Days, Summer Nights
(Flávio Venturini – Luis Carlos Sá)

  • Um raro compacto contendo “Criaturas da Noite” em inglês, com “Fields on Fire”/”Queimada”, extraída do álbum homônimo, vertido para a Europa e para a América Latina, especialmente Chile e Argentina, e nunca distribuído integralmente no Brasil. Na versão em português, deu nome ao terceiro e mais importante álbum do grupo, gravado no Estúdio Vice-Versa, em São Paulo, com arranjos de Rogério Duprat. Inicialmente um trio, o grupo formado em 1969, contava com o guitarrista Sérgio Hinds, Jorge Amiden (guitarra) e Vinicius Cantuária (bateria ). Ao longos dos anos, e dos diversos álbuns gravados, Sérgio Hinds manteve-se à frente do grupo, que teve a participação de César das Mercês (baixo), Sérgio Magrão (baixo), Flávio Venturini (teclados, violão e vocal), Luiz Moreno (bateria e vocal) e Sérgio Caffa (teclados), entre outros.

Som Nosso de Cada Dia/O Som Nosso de Cada Dia
(Paulinho – Pedrão)

  • Música do primeiro e clássico Lp “Snegs”do trio paulistano liderado pelo saxofonista e tecladista Manito, mais Pedrinho (vocal e bateria) e Pedrão (baixo, viola e vocal). Manito integrou os grupos The Cleavers e Os Incríveis na década de 60, com quem gravou vários álbuns e compactos. Afirmando a presença do rock progressivo no Brasil, com letras em português, o Som Nosso de Cada Dia transformou-se em legenda do gênero, inclusive no exterior. Com curta duração, o grupo ainda gravou um segundo Lp – “Som Nosso”, em 1976.

Som Imaginário/Super God
(Zé Rodrix)

  • Grupo originalmente formado em 1970 para acompanhar o cantor Milton Nascimento, composto por grandes instrumentistas e de consistentes carreiras solos, que gravou três discos até dissolver-se em 1973. Integraram o grupo em suas várias formações Wagner Tiso (teclados), Luís Alves (contrabaixo), Robertinho Silva (bateria), Tavito (violão), Fredryko (guitarra), Zé Rodrix (teclados, voz e flauta), Laudir de Oliveira (percussão), Naná Vasconcelos (percussão) e, ainda, ocasionalmente, Nivaldo Ornelas (sax) e Toninho Horta (guitarra). Gravaram os discos “Som Imaginário” (1970), “Som Imaginário -2” (1971) e “Matança do Porco” (1973).

Vímana/Masquerade
(Luis Paulo Simas – Richie Court – Vímana)

  • Legendário grupo carioca de hard-progressivo formado em 1974 por Lulu Santos (guitarra), Lobão (bateria), Fernando Gama (baixo) e Ritchie Court (vocais). Deixaram gravado um compacto, contendo as músicas “Zebra” e “Masquerade”, e participaram de discos de outros artistas, destacando-se as faixas “Riacho do Navio” e “Antônio Conselheiro”, de “Ave Noturna” do cantor Fagner (1975). Com um som progressivo, longos shows e cantando principalmente em inglês, o grupo foi um dos grandes destaques da cena carioca dos anos setenta, e celeiro de futuros hit-makers. Lulu Santos e Ritchie gravaram diversos álbuns solo a partir de meados dos anos oitenta, e Lobão, depois do sucesso com o grupo Lobão & Os Ronaldos, também seguiu carreira solo de sucesso.

Veludo/Veludeando
(Paul de Castro – Elias Mizrahi – Nelsinho Laranjeiras)

  • Registro ao vivo de um dos maiores expoentes do rock progressivo brasileiro, que desenvolveu brilhante carreira entre 1974 e 1978, sem deixar nenhum disco gravado. Formado por Nelsinho Laranjeiras e Elias Mizrahi (ex-Antena Coletiva) e Paul de Castro (ex-Veludo Elétrico) e Gustavo Schroeter (ex-A Bolha) destacaram-se em impressionantes apresentações ao vivo. “Veludeando” registra talvez a melhor delas, realizada durante o espetáculo “Banana Progressiva”, ocorrido em São Paulo, em 1975, com a presença das melhores bandas progressivas da época. Preservado em fita cassete e resgatada o som digital por Nelsinho Laranjeiras, integra o cd “Veludo ao Vivo”, que contém o show realizada naquele ano.

A Banda Tropicalista do Duprat/Flying
(Lennon & McCartney)

  • Clássico dos Beatles que integra o álbum “A Banda Tropicalista do Duprat”, gravado em 1968, com a participação dos Mutantes. Este álbum é talvez a faceta mais importante do maestro erudito Rogério Duprat que iniciou sua vida de “roqueiro” na gravadora VS (Vilela Santos), em São Paulo, fazendo arranjos para os artistas da casa, que tinha entre seus contratados Baby Santiago, The Rebels, The Hits e Albert Pavão. Nos anos setenta, Duprat foi responsável pelos arranjos do clássico álbum “Criaturas da Noite”,do grupo O Terço, e trabalhou com os grupos Bendegó e 14 Bis, além de desenvolver uma série de outras atividades ligadas à música.

Imagem: Senhor F Social Club

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