O rock brasileiro tem a sua galeria de heróis da guitarra, inaugurada por Betinho quando empunhou sua Fender Stratocaster para gravar Enrolando o Rock, em 1957, considerado “o primeiro rock nacional com guitarra”.
Desde então, dezenas de grandes instrumentistas desfilaram por discos e palcos, deixando seus nomes gravados na discografia nacional, como Euclides, Renato Barros, Sérgio Dias e Lanny Gordin, entre outros.
- Na foto da capa, o guitarrista Dudu e o grupo The Avalons com Paul Anka,para quem abriram o show em São Paulo, em setembro de 1960; da esquerda para a direita, Paulinho, Dudu, Paul Anka, Bob Wing & Galli Jr. (futuro Prini Lorez).
Além de Betinho, outro grande nome merece destaque nos registros dos primeiros passos da história do rock brasileiro: Francisco Eduardo Pereira, mais conhecido por Dudu, guitarrista do grupo paulistano The Avalons.
Antes de enveredar pelos caminho do rock, o jovem Dudu, então Dudu do banjo, começou tocando o instrumento em 1956, na orquestra Paulistania Jazz Band, em São Paulo.
Dois anos depois, passa a integrar o grupo The Avalons, ao lado de Daniel (baixo), Paulinho (bateria) e dos vocalistas Solano Ribeiro (dos Festivais da Record), Passarinho e Bob (depois Tito Lívio).
- The Avalons por Solano Ribeiro
“Em 1959, ao assistir um programa vespertino pela TV, vi a apresentação de um trio instrumental composto de guitarra (Dudú), baixo (Daniel) e bateria (Paulinho), senti que estava diante de um grupo que fazia o melhor e o mais atual rock fora da matriz (USA).
Imediatamente resolvi me juntar a eles. Foi uma carreira fulminante. A primeira apresentação dos Avalons aconteceu para um grupo de amigos na casa da jovem idealista Regina Helena Dias da Silva, a futura marchand Regina Boni, ao lado de seu então namorado José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que mais tarde viria a ser um dos responsáveis pelo sucesso da TV Globo.
Entre a estreia dos Avalons naquela noite e a gravação do primeiro disco se passaram apenas 15 dias. O grupo era formado por Dudú na guitarra, Daniel no baixo e Paulinho na bateria. Os vocais eram feitos pelo Passarinho, por um chinês chamado Bob e por mim, Solano Ribeiro”.
- O clássico China Rock
Das suas mãos nasceu o tema instrumental China Rock, que traz um dos mais sensacionais riffs da história da guitarra nacional e, mesmo, internacional, segundo René Ferri, “um original à altura dos grandes clássicos americanos do gênero”.
Segundo o blog Brazilian Rock, “com seu violão modificado, Dudú causou sensação e discussão em quem ouvia o 78 ou 45 rpm de China Rock, um agitado rock-a-billy com uma melodia que mesclava escalas orientais ao ritmo do rock instrumental. Ele utilizou a ‘técnica da palhetada’, desenvolvida com seu banjo durante seu tempo no jazz”.
Ainda de acordo com o blog Brazilian Rock, “todos perguntavam quantas guitarras solavam alucinadamente naquela gravação, Dudú respondia: “só uma!”. A técnica consistia em solar em acordes, tocando duas ou mais notas ao mesmo tempo, ao invés de apenas uma nota, o que dava a impressão de haver mais de uma guitarra tocando.
- A gravação de China Rock
“As gravações eram ‘ao vivo’, em apenas 4 canais. Se houvesse qualquer erro, por menor que fosse, tínhamos que regravar tudo. Durante a gravação de Valentina my Valentina, o trio vocal, de jovens entre 19 e 22 anos (Solano, Passarinho e Bob Wing), nunca tinham entrado em estúdio de gravação, estavam nervosos e não conseguiam alcançar o tom da música. Eu era um pouco mais velho. Depois de muitas regravações, eu já meio nervoso, fui a um boteco do lado do estúdio, comprei uma garrafa de whiskey e dei p’ros rapazes tomarem um gole. Retornamos ao trabalho e gravamos Valentina my Valentina numa passada só, e sem qualquer erro”. (Dudu ao site Instrumental Newsletter).
- Outros registros
Com o grupo, gravou diversos 78rpms e acompanhou intérpretes como o cantor Galli Junior e a cantora Regiane (especialmente na música Frankie), entre outros.
Além do 78rpm contendo China Rock e o hit Valentina, My Valentina (lado b), Dudu ainda gravou com o grupo os 78rpm Baby Talk/Come Softly to Me (1959); Here Come The Avalons/Believe Me (1959); e Rebel Houser/All The Time (1959).
O grupo também lançou os compactos Because I Love You/Tell Me Darling (1962), com Gally Junior; The Avalons (45 simples, 1960) e The Avalons (45 duplo, 1963, também com Gally Junior).
Em 1962, com o fim do grupo, Dudu viaja para o exterior, onde passa a tocar Bossa Nova entre a França e a Grécia, passando por outros países da Europa.
Em 1969, volta para o Brasil e, 1973, com a Tradicional Jazz Band, retoma o banjo e o jazz. Nessa época, passou a morar em Ubatuba, no litoral de São Paulo, mudando-se depois para Florianópolis.
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