A Syli Authentic é uma espécie de matriz das dezenas de orquestras que proliferam na Guiné-Conakry independente do colonialismo francês, em 1958, processo liderado pelo presidente Ahmed Sékou Touré.
A orquestra é também o epicentro de um dos processos culturais mais importantes da história da África, e mesmo mundial, que teve o Estado como fomentador de uma política de promoção do orgulho nacional, pós-colonialismo.
Na esteira da política cultural batizada de “authenticité” que mobilizou o continente, de resgate dos valores da cultura africana, patrocinada pelo novo governo, surgiram orquestras estimuladas pelo Estado revolucionário por todo o país.
Entre as principais orquestras criadas na maioria dos 34 distritos do país, são destaques Bembeya Jazz National, a mais popular, Keletigui Et Ses Tambourinis e Balla et Ses Balladins, estas duas oriundas da Syli Authentic, formada em 1959.
Música, resgate cultural e formação
A Syli Authentic reunia os músicos mais importantes do país na época, como Kerfala “Papa” Diabaté (guitarra), Kélétigui Traoré (saxofone tenor), Pivi Moriba (trombone), Kerfala Camara (baixo) e Jean Fanga (bateria).
Nas formações seguintes, incluiu gênios como o cantor Aboubacar Demba Camara e o guitarrista Sékou Diabaté – “Diamond fingers” (veja no vídeo abaixo) – posteriormente integrantes da Bembeya Jazz National.
Associada e militante da política de Estado na nova Guiné-Conakry, e por determinação do presidente Sékou Touré, a Syli Authenc percorreu o país, incluindo as zonas rurais, para formar jovens músicos e orquestras locais, com grande sucesso.
As orquestras, no sentido africano, eram conjuntos que tocavam música dançante em bares, hotéis ou salas de concerto, influenciadas especialmente pela música cubana e pelo jazz (negro) norte-americano, incluindo destacadas guitarras.
Como resultado da política de valorização da cultura local, em meados da década de 1960 o governo guineense tinha criado uma rede de mais de 30 orquestras regionais, além de um número superior de companhias de balé e corais.
Rádio, festivais regionais e gravadora
Organizando e impulsionando a política de independência cultural, foram criados festivais locais e nacional, além de uma rádio e uma gravadora, a Syliphone Conakry (veja a discografia completa), que gravou e preservou a riqueza da produção daquele período histórico.
Graças ao papel exemplar da Syliphone Conakry, atualmente podem ser encontrados LPs originais de um grande número de orquestras e artistas, a maioria também disponíveis nas plataformas digitais.
Uma pequena lista, além da Syli Authentic, inclui orquestras como a Bembeya Jazz National, Keletigui et Ses Tambourinis, Balla et Ses Balladinis, Horoya Band National, Super Boiro Band e Orchestre Pailote.
Ainda mais, outras como Camayenne Sofa, Tropical Djoli Band de Faranah, Tele-Jazz de Telemele, Le Palm-Jazz de Macenta e Le Simandou de Beyla, além de coletâneas especiais e registros de festivais nacionais, com participação das diversas orquestras regionais.
A Syliphone Conakry também preservou para a história a obra de um dos maiores cantores africanos da história, Sory Kandia Kouyaté – a “Voz da revolução” e/ou a “Voz da África”, disponível em coletâneas, especialmente “La Voix de la Révolution”.

PLAYLIST: Ouça a playlista ÁFRICA INFINITA – Orquestras da Guiné-Conakri, no perfil Senhor F Social Club, na plataforma Spotify.
Foto: Syli Authentic, em sua origem / https://wrldsrv.blogspot.com/
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