A região Norte do Brasil é uma das “bacias culturais musicais” mais
importantes do continente sul-americano, a exemplo de regiões como o Caribe colombiano.
A história social e musical moderna do Norte do Brasil envolve
relações que remetem à influência afro-latina-caribenha, aos portos da região, às rádios “em ondas tropicais” e à indústria musical.
Além dos ritmos nacionais conhecidos, como o carimbó, o siriá, o banguê e o samba de cacete, o caldeirão sonoro amazônico inclui o bolero, o mambo, a cúmbia e, especialmente, o merengue.
À frente dos principais gêneros gerados na região estão artistas fundamentais como Mestre Cupijó, Mestre Lucindo, Verequete, Pinduca, Mestre Vieira, Aldo Sena e Curica, entre outros.
O merengue, em especial, por meio dos discos contrabandeados, ou editados pela Rozenblit, tocado em festas de aparelhagens e outros ambientes “menos recomendados”, teve fundamental importância.
Em menor escala, o bolero do cubano Bienvenido Granda oude Xavier Cugat, a partir dos anos cinquenta, ou da brasileira Edna Fangundes, nos anos setenta, igualmente contribuiu para a formação musical da região Norte.
A construção de seus principais gêneros musicais como o siriá,
o carimbó e, modernamente, a lambada e o beiradão se deram pela
superação de condições adversas.
- Em uma de suas crônicas, publicadas nos anos sessenta, o escritor colombiano Gabriel García Márquez, definiu que “o Caribe, em rigor se estende, desde o Norte até o Sul dos Estados Unidos e pelo Sul até o Brasil”. Segundo ele, o Caribe não seria “somente uma área geográfica, como creem os geógrafos, e sim uma área cultural muito homogênea”.
– O Grande Caribe e sua influência na criação e no mercado mundial da música
A situação geográfica de isolamento resultou na busca de soluções locais para difundir a sua cultura, em particular a música, estimulando a construção de uma indústria musical, desde a produção até a distribuição.
O advento da beatlemania no mundo e da Jovem Guarda no Brasil, junto com a popularização da mídia em vinil – compactos e LPs – estimularam o processo.
Assim, surgem diversas experiências entre as quais destacamos a gravadora Gravasom, de Belém, que contribuiu para a formatação de gêneros musicais como a lambada e o brega.
- Igual a seus pares internacionais, a Gravasom cresceu e consolidou seu espaço atuando em nicho, no caso regional, no Norte do Brasil, e musical – lambada e brega, principalmente.
É nesse cenário que o Norte do Brasil desenvolve um dos gêneros
musicais mais importantes da moderna música brasileira, a lambada, tendo à frente Mestre Vieira, natural de Barcarena.
- “Mestre Vieira criou um gênero. Isso em qualquer lugar do planeta é importantíssimo”, afirmou Boanerges Nunes Lobato Junior (Pio Lobato) na tese “Guitarrada, um gênero do Pará” (Universidade Federal do Pará, 2001).
Rebatizada de guitarrada – “a lambada com guitarra” -, a partir dos anos dois mil, resgatou artistas geniais, quase esquecidos, como Mestre Vieira, Aldo Sena, Oseas, Solano, André Amazonas, Mário Gonçalves, Magalhães e Barata.
Praticamente junto, o beiradão – uma espécie de lambada de saxofone – de Teixeira de Manaus, Chiquinho David e Chico Cajú, entre outros, incluiu o estado do Amazonas no mapa musical da região.
O universo da música moderna da Região Norte ainda inclui o brega, o tecnobrega, o reggae do Maranhão e o marabaixo do Amapá, fundamentais para a compreensão do universo musical da região amazônica.
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- Textos baseados e/ou reproduzidos no livro Ondas Tropicais – A invenção da lambada e do beiradão na Amazônia moderna, de Fernando Rosa, editado de maneira independente, atualmente esgotado.
Foto: Wikipedia.






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